Com o enfraquecimento do El Niño e a possibilidade de formação do La Niña no segundo semestre deste ano, os agricultores estão atentos às mudanças previstas no cenário da produção da soja e do milho em determinadas regiões. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) divulgou o boletim nº 5 com dados sobre monitoramento, previsões e os possíveis impactos do El Niño no Brasil em 2024. Segundo a meteorologista do Inmet, Andréa Ramos, a intensidade do fenômeno deve mudar de moderada para fraca nos próximos meses.
“O La Niña, o sinal dele é inverso, ou seja, ele aumenta as chuvas no Norte e no Nordeste e diminui as chuvas na região Sul. E essa diminuição tem impacto significativo na questão das produções agrícolas, porque aí começa aquele período de estiagem”, observa.
De acordo com o agricultor e estudioso do clima Mauro Costa Beber, o clima é determinante para a produtividade. Para ele, esse enfraquecimento do El Niño e a possibilidade de formação do La Niña tem uma correlação com as temperaturas dos oceanos e com a produção de todas as culturas no Brasil e no mundo.
“O El Niño aumenta as precipitações no Sul do Brasil e tem diminuição na região Norte. Já o La Niña tem um efeito contrário. O impacto disso está relacionado com o regime de chuvas e com as temperaturas em todo Brasil”, destaca. Se acontecer o fenômeno como esperado, Beber diz que, as alterações climáticas podem impactar na produtividade e no preço da soja.
O advogado especialista em direito agrário Francisco Torma também tem preocupação com a queda de produtividade da soja.
“O problema é que uma estiagem inesperada vem causando danos às lavouras de soja do estado e se o cenário se estender, teremos perdas na safra de verão também no sul. Ou seja, no pior dos cenários, teremos perdas em praticamente todo o território nacional nesta safra 2023/2024”, aponta.
Milho em baixa
Mauro Costa Beber cita as lavouras de milho como um exemplo de cultura que sofre com as mudanças climáticas. A produção do milho que, praticamente não precisa de irrigação, passou por perdas de produtividade de 40%, por excesso de chuva, muita nebulosidade e ataque de pragas com a presença do El Niño, ressalta o especialista.
O agricultor conta que, atualmente no Sul, a região passa por um período de calor. “Depois de um período muito chuvoso que ocorreu de setembro a dezembro, estamos em um El Niño forte”. Conforme Beber, o resfriamento das águas do Atlântico Sul também traz pouca chuva para o Rio Grande do Sul, com perdas hoje de 20% para a safra de soja.
Ele ainda lembra: “O El Niño rapidamente vai perder intensidade e no segundo semestre a maior probabilidade estatística é de termos uma La Niña, com 70% de previsão de alterações climáticas”, salienta.
Região Sul em alerta
De acordo com o advogado especialista em direito agrário Francisco Torma, o quadro traz uma certa preocupação para os agricultores que atuam na região Sul do país, que, segundo ele, estão no meio da primeira safra de verão com a previsão de seca.
“Até o ano passado, estivemos sob a interferência do La Niña, fenômeno que trouxe seca para o sul e chuvas para Centro-Oeste e Sudeste. No Rio Grande do Sul, foram duas safras de soja frustradas, o que levou a um cenário de diminuição da produção, economia em queda, além de embates dos produtores com as instituições financeiras, fornecedores particulares e seguradoras”, comenta.
Torma ainda continua. “No fim do ano passado o cenário inverteu e o El Niño passou a atuar, fazendo com que as chuvas voltassem ao sul, mas ficassem raras no restante do país. E é este fenômeno que explica a provável quebra de 20% da produção de soja do Mato Grosso”, observa.
A meteorologista Andre Ramos concorda. “De 2019 até 2022, ali no Rio Grande do Sul foi caótica essa situação, porque foram praticamente três anos com chuvas abaixo da média. Agora, com essa projeção do La Niña, o fator principal que influencia na área agrícola é justamente ali na região Sul, com essa tendência de diminuições de chuva”, explica.
Expectativa de cenário positivo
O mestre em agronomia e supervisor técnico da Maxisolo-Sulgesso, produtor Caio Kolling, acredita que com o enfraquecimento do El Niño, algumas produções podem sentir uma certa melhora no cenário produtivo do milho de segunda safra.
“Eu tenho condições de chuvas mais adequadas para a região Norte e Centro-Oeste,o que influencia principalmete a produção do milho de segunda safra”, avalia.
O agricultor e estudioso do clima Mauro Costa Beber concorda que o ciclo 2024/2025 pode ser muito bom para a metade norte do Brasil.
Mas o advogado Francisco Torma lembra: “O clima é uma variável que tem profundo impacto na produção agrícola nacional e é por isso que se faz necessário investir em tecnologias que resistem às mais variadas situações climáticas, bem como políticas públicas que preservem o produtor rural, como a subvenção ao prêmio do seguro rural”.