O geólogo e pesquisador Marcell Leonard Besser, do Serviço Geológico do Brasil (SGB), descobriu novas rochas conhecidas como piroclásticas, no Paraná, o que levou à identificação de um vulcão formado por erupções explosivas. O local recebeu o nome de Vulcão Tapalam. As rochas piroclásticas encontradas, chamadas de tufos, são formadas de erupções explosivas e estão em uma mina no município de Marilândia do Sul (PR). As rochas piroclásticas foram formadas a partir da pulverização da lava e posterior solidificação da mesma em partículas de vidro vulcânico, evidenciando a intensidade dos jatos de lava do vulcão Tapalam.
A área da mina faz parte da maior província vulcânica do Brasil, e da América do Sul como um todo, denominada Província Magmática Paraná-Etendeka, com 134 milhões de anos e que abrange o Centro-Sul do Brasil (RS, PR, SC, SP, MG, MS, MT, MG e GO), Argentina, Paraguai e Uruguai, e tem uma porção na Namíbia, na África. A ocorrência na África ocorre porque o vulcanismo foi grande e vasto e se formou antes da separação entre América do Sul e África. “O diferencial do vulcão Tapalam é que ele produziu erupções explosivas com depósitos de cinzas vulcânicas”, explica Besser.
O pesquisador comenta que a descoberta é única até o momento e ajuda na compreensão mais aprofundada da geologia desta enorme província vulcânica e de seu passado remoto. Além disso, revela a existência de jatos de lava ainda mais expressivos que os vistos na Islândia em 18 de dezembro de 2023 e que chegaram a 200 metros de altura. Os jatos ou fontes de lava do vulcão Tapalam provavelmente ultrapassaram 1 km de altura. “O vulcão Tapalam, agora famoso, permanece como testemunha desses eventos ancestrais. No entanto, as pesquisas continuam para entender mais sobre a natureza do vulcão, sua forma, taxas de efusão das lavas e a datação precisa de sua formação”, disse.
Besser comenta ainda que o estudo contribui para a compreensão das grandes províncias magmáticas da história da Terra, as chamadas LIPs (da sigla em inglês Large Igneous Provinces – ou Grandes Províncias Ígneas). O estudo destas LIPs é muito importante porque os eventos vulcânicos que ocorreram nestas áreas foram responsáveis por direcionar a evolução da vida no planeta, contribuindo inclusive para eventos de extinção em massa. A pesquisa, que contou com a participação do geólogo André Luís Spisila, será continuada com o objetivo de ampliar a descoberta. “A gente vai dar continuidade a essa pesquisa para entender um pouco melhor o formato desse vulcão e provavelmente tentar encontrar outros, porque, se tinha esse, então existem muitos outros que ainda não foram encontrados”, destaca o pesquisador.
No contexto nacional, o conhecimento geológico não é apenas uma busca científica, mas também uma fonte valiosa de recursos. “A mina onde foram encontradas as rochas vulcânicas destina-se à exploração de brita, algo essencial na construção civil para erguer casas, prédios, escolas, entre outros. Esse é um exemplo prático da importância do mapeamento geológico e do entendimento da geologia, pois fornece informações cruciais sobre a localização de minérios, água potável subterrânea e outros recursos essenciais, muitos deles essenciais para a transição energética”, explica Marcell. A pesquisa desenvolvida durante os últimos quatro anos e seus resultados estão disponíveis e foram publicados na revista científica “Bulletin of Volcanology“, a mais antiga sobre vulcanologia e uma das mais conceituadas na área.